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quinta-feira, 19 de maio de 2016

Traços de um tempo inventado



Esfrego entre palmas instantes de existência clandestina, todos os minutos que nos foram permitidos viver sem o relevo da invenção sujeita a parâmetros condicionados ao tempo, a fuga pelo devaneio ou o querer estar, quero-te aqui agora que te penso sem a memória doída ou amedrontada dos anos que se passaram desde a última vez que respondeste de um outro lado de um fio invisível sou eu, irreconhecível o teu tom de voz, desligo por não seres a poeira do que se solta das minhas mãos, das nossas mãos sem se tocarem, a distância sempre foi o nosso melhor aliado nesta profusão do sentir e querer e não deixar porque afinal isso era o melhor das histórias inventadas e até mentíamos tão bem quando o desejo nos aconchegava o silêncio e não estávamos.
Não estávamos.
Criávamos imagens de despedidas para justificar não estar e voltar contentes numa simplicidade quase grotesca de perdão. Quero-te aqui, mas não a carne do teu corpo, só a lembrança do que serías clandestino, traçado rápido, ágil e volátil a mudar-te o timbre, a cor dos olhos, não estás quando me respondes desse lado quem é, quem é incessantemente à minha respiração perguntada na mutez suspeita de quem sou eu, pois não sou, escrevo atrasada o que resta de ti até completar a hora, esfrego as mãos e encontro nada.
 
 

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