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quinta-feira, 26 de maio de 2016

Sem badaladas


 
Entre a véspera e agora, diferença alguma se faz, os olhos pestanejam a humidade bastante para seguirem mas o sono não dorme, o corpo não verga e a vontade de um e outro ou um ou outro se aconchegarem a ver se chega nem se quer na tentação se cogitam, avanço-me sem moléstias de contagem, mecanicamente o relógio encanta as paredes no fundo da casa a bater horas como um pássaro preso, muito bonito, mas dentro duma gaiola.
Quero lá saber, os dedos colados nas páginas brincam às mercearias, uma dose de letras bem pesada e uma dobra no cartucho para que não se vaze no grão, aparo linhas com retoques em A que se iniciam nos parágrafos muito deitados, comentários de quem me critica ao lado e encosta a orelha sem paciência para explicações de meia-tigela sobre a necessidade de me encher de coisas bonitas ao redor, para quê tanto detalhe?
E o desgraçado lá dentro a gemer, só, uma volta que fosse, até meia-volta que fosse na chave enfiada no furo e alimento bastante para gritar mais uma já lhe daría a força, mas fica-se, esganiça-se.
Termina-se na minha tinta todas as canetas. Todas as páginas e o caderno que ainda nem a meio vai. Talvez um pedaço de cansaço, um bocado de horas que não ouço.

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