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terça-feira, 17 de maio de 2016

Clarabóia

 
 
- Como é que te chamo?
Sería maravilhoso se tivesse tido a intenção de lhe pôr um nome, guardá-lo, não só guardá-lo na gaveta mas nos segredos como um propósito irrevelado que não se pode ou não se deve no momento trazer à luz, sabe-se, todavia mantém-se presente no pensamento como uma claraboia, verte a claridade bastante para que se permita dizer que é um cómodo a acesso a luz natural mas na verdade sem janelas.
Na verdade tería sido maravilhoso arranjar-lhe esse propósito, sacá-lo da pasta castanha sem admiração por sempre o ter sabido por lá, o nome por lá, apenas adormecido até as mãos o segurarem de novo e murmuram o nome secreto.
- Como é que te chamo?
E aí chamava, rebaptizava o que sempre soubera.
Mas não lembro, não sei tão pouco se lhe pus nome, se havia nome quando nasceu nas letras que se escreveram nas páginas agora achadas, porque só agora folheadas de novo como se o propósito fosse terem ficado secretas sem nome até agora, ou esquecidas porque assim tinha de ser.
Não sei como te chamo, leio-te e admiro-me.
- Como é que te chamas?
Não acho demais não teres nome, tão mais solene teres ficado incógnita por um tempo que nem sequer datei, adivinho até falta de intenção nesse acto, uma claraboia que apenas existiu como isso mesmo e nada mais.
Afinal, até há coisas que se escrevem que são exactamente aquilo que se escrevem e não pretendem ser outras ou significar outra coisa. Mesmo que dali a muito tempo, mesmo que não tenham nome.
E isso também tem o seu interesse.

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