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domingo, 10 de abril de 2016

Contemplações (num Domingo de chuva)


 
Aceleram. Impacientam-se e aceleram na espera, depois apitam os cinco minutos de demasia como se não bastasse o contratempo da chuva, vigiam o para-brisas alisado a tempos certos pela escova mecânica que não apressa a chegada dos restantes, apitam duas vezes rápido.
Olho-os pela janela e não consigo achar razão para tamanha fúria nem pressa nem descontento nem vontade de se encafuarem num carro para rodarem meia dúzia de quilómetros, o passeio de Domingo, o meu ficar de Domingo, esta chuva ao Domingo tão incapaz de satisfazer os planos da semana, esta água de Domingo que me consola num dia que me apoquenta, este transtorno de uns que é a panaceia de outros, equilíbrio.
Finalmente completam-se no transporte, gesticulam, arrancam, o lugar desocupado do carro deixa uma marca seca de cor contrastante, um rectângulo que rapidamente a chuva vem pintar de cinzento escuro fazendo esquecer toda a impaciência dos momentos atrás. Um vento eriçou a água de lado que parece lavar toda a rua num silêncio onde apenas se ouvem os varandins a cantar desordenadamente.
Bafejo o vidro e desenho um coração.

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