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sábado, 26 de março de 2016

Um traço [de tanto]



 
Foi a agitação dos pássaros e a sua indiferença ao fim de semana que me fizeram abrir os olhos, não de uma forma contrariada, permaneci na indolência do conforto morno e macio da cama a apreciar a chilreada, sons alegres que habitualmente não tenho condição de escutar, ainda lusco-fusco, as cortinas leves brejeiram-se à mudança do nascer do dia, daqui a nada ou daqui a muito, basta eu fechar os olhos de novo e adormecer, deixar-me ir enquanto posso na música que me oferecem, no silêncio agitado da vida das aves ocultas decerto muito coloridas pelo tom dos diálogos, tempos verbais a desrespeitar a frase rigorosa [comecei num passado e arrasto esta felicidade num traço contínuo e lento até ao presente, conto, canto, reproduzo o instante], sorrio no peito e admiro a placidez dos gatos incólumes ao desafio, o cão hibernado sem acusar os agudos, e sempre eles lá fora tão afinados nos seus afazeres quanto a dobra do lençol a delimitar preceitos inventados sabe-se lá por quem mas que estão certos e são-me precisos para me lembrar que não há dia marcado para se sentir alivio, oxigénio, um fiapo de simplicidade que pode parecer coisa nenhuma para todos mas para mim [talvez que me encha com pouco] foi tanto.

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