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quarta-feira, 2 de março de 2016

Travessias do Rio - 7



Em tantos anos nunca atravessei o Rio com o Gaspar, não de patas a marcar molhado a quatro bolinhas como tatuagens pelo chão, só no peito, no cheiro, nos pêlos cuidadosamente puxados do casaco e libertos pelo peso do ar a fugir pelo invisível dum sitio perdido, na lembrança de se estaria a dormir àquela hora.
Talvez se este bocado de água se tivesse feito estrada dura o tivesse trazido, os dois a par de nariz a adivinhar o liquido disfarçado com as gaivotas ao alto a rirem do engano mal contado, o cacilheiro de enfeite, os marinheiros de olhos azuis como faróis na margem segura.
 
Talvez hoje seja o dia de ser cão, eu cão ou outra besta de quatro atravessando o Tejo como só um animal o sabe e pode fazer sem males ao Rio e ao céu e sem se importar com nada mais que o alcance das patas.
 
 
in Travessias do Rio, Fevereiro 2016

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