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quinta-feira, 3 de março de 2016

A elegância do paquiderme (ou a continuação da besta do texto anterior)


 
O zunido que sinto não sei onde tem origem: Se dos tímpanos pela vibração irritada do martelo aos decibéis, se dos dentes pela força das mandíbulas em manter as palavras apertadas para não se escaparem, se dos punhos pela vontade de não abrir as mãos e ensaiá-las num bom par de estalos, se do estômago por já não conseguir mais volume para engolir tanta estupidez.
Tento não perder a postura, mas a saliva a mais que engulo e engulo vitrifica-me os olhos e a falsidade do que não sou cai em pedaços minúsculos que pisam ao passar, descuidados, desafinados, muito surdos do ruído conjunto.
Os meus olhos pisados reduzidos a pó.
Não sei de onde vem o zunido, talvez que venha do vidro cantado, dos restos dos meus olhos cantados em bocados perdidos e chutados para uma pá no final do expediente por uma laboriosa funcionária de limpeza.
Mesma cega há que não perder a elegância e nestes casos, devo cumprir o que se espera: engolir a saliva a mais sem me babar como um animal.
 
 
Nota* A atracção da foto é a eminente e delicada pata do elefante desviar-se sobre a vamp em pose 

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