Manhã gloriosa, o sol a jorros a entrar pelas janelas do pequeno cacilheiro, do lado de fora o portentoso cruzeiro a fazer parar toda a navegação, ondulações em replicado que enjoam os mais sensíveis, outros amedrontam-se na diferença de tamanhos, nós cá dentro, ele lá fora, é assim que se referem, esquecendo o Rio a oferecer a manta única que aquece o bojo sem ligar a dimensões ou olhos fascinados pela brancura do casco do gigante.
Acenam os turistas de um alto a desafiar o Cristo-Rei, os pequenos retribuem, eu olho o Tejo e controlo o apetite de me lançar e nadar, cansar-me de braços e pernas, mergulhar e brincar nesta água imensa. Imagino o festim, depois do barco grande, uma suicida.
O cacilheiro segue o rumo, todos já pendurados à boca de saída para serem os primeiros a libertarem-se na correria.
Ainda há sol a entornar cá para dentro e o Rio espelha-se do céu muito azul, mas acho que ninguém reparou.
in Travessias do Rio, Novembro 2015
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