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domingo, 6 de dezembro de 2015

Das portas & janelas - Vol.2 - Esboço nº2



 
Hoje consigo-lhe dizer o medo de menino sem disfarce ou recuo. Mas o relance da sua verticalidade inalcançável ainda me faz engolir em silêncio para só depois me referir ao medo do antigamente. Nunca digo do frio que me atravessa as costas como uma lâmina gelada, hoje, ainda hoje tão presente e tão mais bem explicado pelo saber das palavras do que quando garoto a olhava cá de baixo a correr e a vía fechada.
Mais medo fechada do que aberta.
Ou dos sons abafados de desespero a pedirem um socorro ou do nada que se ouvia quando escancaradas à curiosidade.
Nunca lhe vi um pardal a enfeitar o parapeito ou até mesmo um insecto enfeitiçado no brilho dos reflexos dos vidros a bater teimoso, nunca lhe vi nada e por isso o engolir do medo a calcar para dentro sem entender a existência de uma janela única numa parede sem casa.
Um rombo a mostrar vergonhas para quem lhe tivesse a coragem de espreitar ou a soar pedido de perdões no encoberto vergado das duas metades a fazerem-se fechadas, um quase olho dominante e estropiado, vigilante dos que a passarem engolem silenciosos algum crime sob pena de se acharem do lado de dentro.
Consigo dizer-lhe o medo mas só de longe.



(in Das portas & janelas-Vol.2, Abril-2015)

 
Todas as fotografias da Colecção Das portas & janelas-Vol.2 são da autoria de Eduardo Jorge Silva

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