Escola. Calças de fazenda. Com cheiro de lã molhada. E as folhas das camélias muito verdes e muito brilhantes como se tivessem sido envernizadas, só que as árvores estavam despidas, galhos fantasmagóricos como braços muitos fininhos e longos que cresciam assustadoramente à medida das horas a esticarem-se até entrarem dentro da sala de aulas e pegarem nos ombros brancos de batas. Gritos estridentes em silêncio. Para dentro. Só de imaginar. Como uma estória. Sem escrever, sem palavras dentro de um saco de onde se pudessem tirar e colar numa folha, só palavras na boca à medida que íam crescendo e se diziam quando a trovoada fazía mais barulho. Depois só a chuva. A lembrar o ruído de batatas a fritar. Muita água a fritar a calçada e pés molhados a procurarem lagos como palitos de batata que se mergulham. E as árvores lá. Sozinhas. Cheias de frio e sem roupa de lã, sem calças de fazenda a cheirarem a camélias. As camélias não têm cheiro.
Mas eu lembro-me de tudo. Até do cheiro da chuva tão diferente. Eu tão outra.
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