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quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Eu, a gaivota e René Maltête



Cinco, dez minutos, um cigarro queimado ou um século que vem detrás, a gaivota é a mesma de sempre ou pelo menos ou acho que é pois se se deixa ficar de pés plantados em cima do tejadilho do carro a arranhar o metalizado brilhante da pintura enquanto roda à medida do som das minhas palavras a si dirigida, vieste hoje, lá resolveste aparecer para me dares importância, fazeres dos meus imaginares a certeza da tua existência nestas pequenas conversas que tenho à beira do ar, como vai a vida e todas as coisas vistas lá do alto?
Pisca um olho assustador como se tivesse luz por dentro, vai-se a ver é um boneco e eu tenho andado a falar para ele, respondo-me apenas na garantia destes minutos não serem em vão, encostos os joelhos ao cimento e o ar que não se vê oferece-me uma chapada, levanta-me cabelos e saias, leva a cinza do cigarro até ao tutano.
Lembro-me de uma fotografia de Maltête onde um grupo de mulheres se encostam a um muro, quase se escutam as suas gargalhadas. Bem que podiam arranjar um espaço para mim e aí encaixar-me, sem gaivotas, sem altivez, sem perguntas, só instantes de uma existência despreocupada.

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