Todos os textos são originais e propriedade exclusiva do autor, Gasolina (C.G.) in Árvore das Palavras. Não são permitidas cópias ou transcrições no todo ou/e em partes do seu conteúdo ou outras menções sem expressa autorização do proprietário.

domingo, 4 de outubro de 2015

Do outro lado da(s) linha(s)




Vi-o descer rápido e ligeiro tal como um risco de tinta que distraidamente se desliza pela folha branca enquanto se olha para outro ângulo. Outras estórias serão, se a importância do plano vazio não se constrói na mão aplicada. Os meus olhos vazios, o gato outra estória a fazer-se quando desceu da árvore frente à janela onde está a minha secretária, bengalas em que me apoio ao deixar a tinta secar perdoando-me pela falta de verbo, talvez tenha descido no dorso do gato e me vigie lampeiro enquanto cuida das unhas, eu escondo as minhas, para quê o uso se a caneta morre neste Domingo.
Tudo parado.
Há um tempo em que nada há.
Vi o gato a olhar-me, quatro patas fincadas no chão. E a minha mão presa à caneta e a outra no bordo das páginas preparadas para o insulto da mancha da cor da tinta permanente.
Chove.
Escrevo sobre ontem sem ser de véspera, sobre amanhã como se hoje fosse, aguam-me as linhas até esticar o tempo ao prazer de nada doer. O gato fugiu, talvez nem um pingo lhe tenha tocado o pêlo fofo, o verbo capeou-o no aviso da água. A árvore em frente à janela onde está a secretária está arranhada, vermelha, quase despida, atravesso-a para o outro lado até ao céu.

Sem comentários: