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sábado, 17 de outubro de 2015

Correr, conhecer, conversar


 
Corria, corria muito, tanto, tanto que se surprendía pela autonomia das pernas e da novidade da coisa, aliás coisa já muito antiga porque há muitos, muitos anos que tal não acontecia, tantos que acabou por se estatelar, surpresa da surpresa, uma velocidade ainda mal começada e logo terminada, caçada na mão que lhe deitou as unhas ao casaco. Do resto não se lembra, agora estava ali deitado. Mas não tinha sido um sonho, que acreditassem nele.
 
Tinha ido ao Marquês, aquela grande bolacha onde os carros andam à volta até entontecerem e depois de ganharem corda suficiente para seguirem saiem. Tinha lá ido, grande movimento como sempre, melhor tinham-no levado mas ele conhecia o caminho como a palma da mão, pudera, tantos anos a conduzir para ali, cada buraco, cada esquina, cada boteco, todos os cheiros lhe são familiares. Mas não conhecia o laboratório onde o tinham levado hoje a fazer o exame, que acreditassem nele que não estava enganado e nem tinha sido um sonho.
 
Falei com ele e ele respondeu-me. Achei tão natural como se fosse uma pessoa a responder-me. E quando contei disseram-me que tinha sonhado mas eu não estou tão certa disso, acho mesmo que o gato falou, claro e pausado como sempre o conheci nas conversas que temos.
 
Tanto ele que corria como o que revisitara o Marquês foram aos lugares despedir-se do que tanto sonharam ao longo da vida, por tanto terem vivido realmente esses bocados. É bem provável que me esteja a acontecer o mesmo.
 
 

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