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sexta-feira, 2 de outubro de 2015

C782 - Bibliotecas



Sentados ou de pé, portas fechadas em balouço agitado atiram-se ao caminho serpenteado entre buzinadelas e travagens ora suaves ora bruscas que na força da inércia empurram corpos, pertences e letras de livros mal seguros entre dedos débeis a adiantarem-se à marca de olhos.
Onde é que eu ía?
Ai, espera que ainda estou na Rua do Arsenal e a página já me voou até à Praça do Comércio! E agora? Como é que agarro o resto da história?
Valha-nos o buraco no asfalto e a mestria do condutor que num ápice tudo se ajusta e o tempo se cola entre o fuso do lido e a memória do lembrado, assim nada se perdeu, nem heroínas de ficção nem passageiros de mão trocados na revistinha caída quando o descontrole do pé do motorista se enfureceu como personagem capital de alguma noticia cor-de-rosa que capeia a gordas, chavões sobre traição, adultério, desengano à morte, parentescos que bem apurados ainda o tornam o avô do último ocupante do assento do fundo.
Muito se lê e cultiva nesta biblioteca ambulante, quilómetros do vão e vêm em formato analógico e do mais moderno para inveja dos que carregam com o calhamaço a tiracolo, pendente no sono pesado por tanto lhe gastar a frase que adivinhe-se pelo tamanho, o esforço de tal leitura.
Ai, chapéus, chapéus há muitos!


 
(in As fantásticas aventuras do C782, Dezembro 2014)

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