- Então, ainda te dás a essas coisas dos escritos?
Apercebo-me como está barulho à minha volta, nada que me tivesse perturbado até agora, porém neste momento uma surdina que conflitua com a minha própria capacidade de distinguir quem é quem, pestanejo, tento limpar baços em nítidas imagens e apontar nomes mentalmente dispersando o ruído que progride e invade todo o meu crâneo, não me ouço.
Não me ouço, falo surdamente, não me ouço e não vejo ao longe silhuetas que pareço reconhecer e não recordo como chamar, preciso de perguntar-lhes se me ouvem.
Há no entanto um som idêntico a um fio metálico espetado no meu ouvido que em simultâneo se mantém activo sem perder a intensidade da frequência na mistura do bruá geral.
- Lembro-me que escrever era uma coisa obsessiva para ti...
Desenho meios rostos, a outra face deixo-a para a Lua penso, para o que não ouço e não vejo, escrevo o meu nome de baptismo à direita, depois com a mão esquerda e consigo ler sempre da mesma forma ainda que pareça assinado por outrem, faço-o de pernas ao alto, à maneira árabe e mesmo com todo o barulho e sem perfeição nos contornos da distância é sempre o que reconheço como meu.
- Não dizes nada? Só eu é que falo?!
- Está aqui muito barulho... O que é que dizias?
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