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segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Tremem-me [os barcos, as palavras e o tempo]




Fico por aqui, os joelhos encostados ao cimento, os pés a sentirem o cimento, o peito a encarar o cimento. As mãos a tremer, o vento gozão a desfrutar do meu cigarro, nem uma gaivota para vir tirar uma palavra de mim. Daqui a nada há-de ser meio-dia e há-de rachar-se o que é completo do que há-de acabar, um jus ao nome das partidas e das chegadas dos barcos grandes que avisto a pontilhar o Rio como serei eu vista deles, pontos sem letras para pingar ou separar na respiração da necessidade de dizer espera, sem ar, mais, mais rápido, mais rápido que o vento que me comeu o gozo de dez minutos de cantarolar ou pensar no Outono ou nada.
Nada direi quando depois do dia for meio-dia e disser que as palavras me são importantes mesmo que tantas vezes me nasçam sem saber donde, que já cá devem andar desde sempre mesmo sem nos lembrarmos. Tremem-me as mãos como se tivesse medo do que vou fazer e a verdade é que nunca tenho medo de nada mas hoje o cimento é demasiado duro e tomou-me os pés, até o cigarro, perdão ao vento que afinal nem uma brisa corre, perdão aos barcos que cimentei.

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