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segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Travessias do Rio - 1



 
Ele estendeu-me o braço e eu aceitei, segurei com convicção, a minha mão aberta presa e ele ligado a mim, o braço dele frio a minha mão quente. O cacilheiro balouçou. A partir daqui não quis saber de nada mais. O Rio estava cinzento, alguém comentou alerta, alertas, deixei passar o resto do que disse porque não me interessava, na verdade só a salvação do marinheiro e aquela segurança do braço a que me prendi tomaram a minha vontade de vida, o que ía à volta podía afundar porque estou cansada de lamúrias e queixas e tragédias e uma bóia atirada quando me tentam sugar para o escuro é como um fósforo riscado mesmo que depois se consuma. O Rio clareou porque o dia abriu a boca, espreguiçou-se e fez-se às horas assim como todos os que entretanto se calaram com a conversa do alerta mudada para a bola ou para qualquer outra actividade, económica, social, sexual o que seja, que ninguém aguenta tanta maré cheia nem sempre vazia, o Rio muda e o marinheiro alcança o braço a outros enquanto eu salto sozinha, a minha mão quente pronta.
 
 
 
 
in Travessias do Rio, Setembro 2015

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