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sexta-feira, 11 de setembro de 2015

P/B



Voz macia. Ía falando aos pedacinhos, calava-se quando ela falava. Voz macia. Ouvia-a a respirar devagar do outro lado da linha, muitas interrupções, três pontinhos imaginava, muitos pontinhos, uma fotografia com o fundo claramente desfocado ou sem o claramente porque nem sequer foi uma conversa, ela estava aflita e não quería denunciar o que lhe doía, fazia-se de grande, mulher crescida. Voz macia. Dava-lhe palavras de conforto sem serem considerações de conselho, nestes momentos ninguém está para ouvir isso, só se quer um ombro macio, um lenço se houver lágrimas. Voz macia, bem entendido. Demorava a dizer e ele deixava que ela demorasse, muitos pontinhos, acabavam a falar os dois, ele calava-se, ela seguia rápido e calava-se logo, um discurso com sabor de perguntas mas não deixava ele responder, retoricamente ela só quería uma fotografia onde estivesse bem. Voz macia. Desligaram.
Ele ficou a pensar nela.
Lembrou-se do beijo. Comemorações aparte, fora a questão do parentesco luso, essas coisitas que a punham de olhos arregalados, as conversas de riso com mão à frente da boca até sufocarem, só quería vê-la de parágrafos completos de novo, fotografias nítidas em que as afirmações tomam os contornos do branco e negro.
 
 

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