Todos os textos são originais e propriedade exclusiva do autor, Gasolina (C.G.) in Árvore das Palavras. Não são permitidas cópias ou transcrições no todo ou/e em partes do seu conteúdo ou outras menções sem expressa autorização do proprietário.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Vidas perfeitas




Apetece-me não ouvir, não estar presente, devolver as palavras como bolas a baterem numa parede, arremessos que me afundam solitária entre tantos a escutar o mesmo. Tantos solitários, procuro os meus e nada, onde se ouvem quando os precisamos e bate-me na cara a bola devolvida.
Suborno-me: Descubro-me numa vida perfeita em tonalidades harmoniosas, não há ruído, um chilrear de pássaros adorna uma casa de um só piso próxima a outras em que tudo me é familiar e próximo, sou benvinda, sinto-o na palpitação por dentro de cada lar, em cada frasco de compota servido no pequeno-almoço disposto com tempo e na conversa sorridente que lembram quando entrelaçam os dedos ao reforçar uma palavra. A calma do tempo lambe cada porta mantendo a tranquilidade à espera de quem volta, felicidade de mim que aqui sou eu, canteiros de rosas, jarros, orquídeas, tudo o que gosto, a minha secretária, os meus cadernos, tantos bichos entre os meus, vagarosamente passeio-me entre a minha vida perfeita e agarro a bola no ar antes de estilhaçar os vidros.
Os solitários nas suas vidas perfeitas. Também.
 
 

Sem comentários: