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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Rodar, desfazer e rir



Para as piruetas treina-se muito, é necessário equilíbrio, noção de espaço. Mas como todas as crianças, não deixei de fazer o que todas fazem, como rodar continuadamente de olhos fechados até ficar tonta e sem tino, trocar as pernas e caír. Dizía-se que depois tínhamos que desfazer as voltas e rodar sem parar no sentido contrário. Claro que isto não evitava tontura alguma e por vezes, náuseas, mas o divertido da brincadeira era observar a falta de domínio, a bebedeira dos sentidos, o descontrole próprio e o riso histérico de todos.
Ao fim de uma semana de trabalho, sinto que rodei continuadamente no mesmo sentido como um parafuso apertado. Não de olhos fechados, mas muito abertos, tão abertos que agora quase não os consigo fechar.
Talvez deva desfazer este nó rodando no sentido inverso, rápido, para que as pálpebras se amoleçam e desçam sobre os globos oculares dando descanso a tanta fealdade. Devo entontecer, tenho de entontecer, é urgente que perca o equilíbrio e que troque as pernas e que caia redonda. De olhos fechados. E ainda a pensar que giro, imóvel no chão, que venham os gatos, o cão e me trepem no seu jeito animal de amar sem condições.

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