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sexta-feira, 7 de agosto de 2015

O bater do coração (vinte e oito)

Um dia, não daqui a muito muito tempo, alguém novo, recém-chegado e de licenciatura com cheiro a tinta verde há-de perguntar quem é, quem era. Os que ficaram e que ouviram a pergunta, lembrados ou importados no esclarecimento, hão-de rodar a cabeça, apertar os beiços, hesitar em dizer bem ou mal. Depois, simplesmente dizem o nome, de seguida acrescentam-lhe o apelido e parando o que fazem hão-de tamborilar na mesa, abanar o pé da perna que se acabou de traçar ao puxar a recordação de tal figura. Contraditória. Por vezes, irritante, odiosa, de outras desconcertante, surpreendente.
Não hão-de comentar muito.
Mas nesse dia e provavelmente apenas nesse único dia, essa figura não há-de saír-lhes da cabeça. Hão-de perguntar-se que é feito de tal criatura, que terá acontecido, que com a idade o feitio se terá refinado e estará agora impossível de aturar. Ou talvez não. Que os anos trazem uma doçura aos olhos que só os mais velhos sabem ver para entender...
Nesse dia irão lembrar pequenos episódios, coisas rocambolescas, até desavenças que não conseguem lembrar porque começaram ou a importância tão grande que deram naquele tempo a ínfimas questões que agora, a esta distância, mais dão vontade de rir do que zangar. E como se conheceram? Que esforço! Era Verão, não, talvez fosse Primavera mas já havia muito calor, curioso como as coisas se complicam quando se habitua a presença de uma pessoa durante anos.
Anos... Há quantos anos se foi embora?
E o coração dispara pela promessa feita. Depois havemos de nos encontrar. Depois.
Quando formos sombras de uma pergunta feita por um desconhecido.


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