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quarta-feira, 24 de junho de 2015

O bater do coração (vinte e sete)



Se me lembro de ti e já não estás perto, mesmo quando passo na rua e insistentemente procuro que venhas à janela imaginando que a qualquer momento possas assomar e chamar-me, mesmo racionalmente e firme nos pés na terra saber ser impossível, esperar sempre e sempre, ainda assim esticar o pescoço e disfarçar na resposta outra qualquer coisa que não a verdade de te ver, repito, mesmo assim em todos esses instantes o coração acelera-me, digo para mim que é hoje que te vejo e depois digo não quando o segundo já passou e o segundo não é porque não chega a ser, é apenas o insuflar do peito.
Concluo então que o bater do coração é falso, ou tão verdadeiro quanto os segundos e se assim for, como poderei eu estar viva a senti-lo por instantes, a bombear apenas no relance em que a ansiedade do desejo é que apareças e me chames da janela do 2º andar em que a certeza é tão mais cruel que o sentimento da vontade do teu ver-te, não bate, recorda o que era bater quando estávamos os dois e eu te visitava ou tu vinhas e discutíamos, ou ruas eram apenas adereços de vontades unas para aproximar a ardência do desejo comum.
Lembro-me de ti. E de ti e de ti. E de cada recordar, sou eu fora de mim com o coração nas mãos a vê-lo bater, a pedir ao tempo segundos, mais uns segundos de vida.


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