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sábado, 13 de junho de 2015

Manhã (de Fernando)



As cortinas embalam levemente pela aragem fresca, sabe-me bem esta solidão de ruídos em que me consigo ouvir esfregar a pele quando o sangue acelera os anticorpos e os olhos desviados da atenção procuram devaneios em objectos inanimados, a caneta na boca é adereço, tão pouco lhe sei o gosto, é mais o jeito do macio no lábio e a contemplação perdida em palavras também perdidas como peças de um puzzle escapado da caixa, um dia alinho-te, hoje o verbo constrói-se como de tantas outras, lembro Fernando e a arca de mil papéis, um tesouro deixado para ser encontrado pergunto-me e as cortinas enfunam, parabéns digo muda, haveria de escrever sobre ti, de novo, outra vez, não, estas conversas são nossas, e não encaixo peças que se arredondam em cantos, outros que me ocupam a secretária, tampo, braços da cadeira, quase me enxotam, lá se vai o silêncio, divagações sobre uma arca que se fecha devagar sem ao menos eu ter o vislumbre do seu forro.
As cortinas imóveis vedam a claridade forte de um dia de sol. Metamorfose de uma folha branca, anticorpos de escrita feita.

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