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domingo, 31 de maio de 2015

Fiapos de nada

Visto assim és nada, um pedaço, um fiapo de fiapos, está-me a apetecer deixar-te assim, reformar-te de vez e tirar-te a lindeza da vida das formas roubadas quando pousado sobre o quente de pele animada, essa sim, de vida própria sem precisar de hóspedes para captar a atenção de ninguém, já tu...
 
Olho-te e lembro os cuidados a principio; Depois, nas pressas o puxão para cá e outro para lá, até mesmo uma rodilha quando os nervos apertavam e olha que até nesses instantes a beleza assentava-te, gabavam-te a finura, eras novo e ainda tinhas cheiro disso. Com o passar do tempo, até de empréstimo andaste, servías a tudo, saías com todos e estavas na moda de dia e de noite, estava-se mesmo a ver que um buraco aqui, outro acolá e o desleixo à vista era a mesma coisa.
 
Primeiros remendos. Coisa pouca. Mas eu sabía. E tratava de os meter para dentro escondendo para que ninguém notasse, poupava-te, poupava-me eu à chacota que não quería ter de defender honra alheia por causa do meu nome. Mas sempre me incomodava, confesso. E quando saíamos dava-te a dignidade da tua experiência, do teu valor, do teu trabalho.
 
Vintage. Achei graça a primeira vez que o ouvi. Mas para mim, doeu-me a verdade de quando se abre o baú das coisas esquecidas pelo tempo com cheiro de arrumado e que viramos a cara para o lado um pouco enjoados pelo odor bafiento. De vez em quando lembrava-me de ti e um e outro mais afoito ou até mais desavergonhado, ainda te pedía para algumas coisas muito retro, que eu recomendava mil cuidados pela idade. Ninguém me escutava, levavam-me das mãos o que queríam,  fios de ti sobravam-me entre dedos, restos de lavor, conhecimentos de outra era.
 
Assim olhado pareces miserável, um bocado de nada que tenha servido a festa. Quem diria que chegámos aqui os dois, fiapos de nada, não achas?

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