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domingo, 8 de fevereiro de 2015

Oxalá!




Acordou  no sobressalto de um ruído batido a tempo certo, cavo, conhecido de uma lembrança escondida num espaço do corpo por arrumar que lhe fez revirar os olhos ao compasso do coração agitado, as mãos presas na dobra do lençol repuxado ao queixo. Duvidou do acordar, cerrou os olhos e sentiu o céu da boca acre, o barulho parara, a recordação bolsou-lhe numa golfada de cores, de regresso o batuque.
Já tinha as pernas compridas, os joelhos ainda eram bicudos como cotovelos e os pés alongavam-se como se pudesse dormir de pé, duas protuberâncias começavam a envergonhá-la logo abaixo do pescoço, tanto quanto as borbulhas que todos os dias lhe apareciam na face. Corría muito, tinha muita força, ninguém lhe ganhava. E o resto eram histórias.
O cavalo de pau, com apoios de balouço, corría tanto como os verdadeiros. Ou pelo menos, era nisso que ela acreditava quando se empolgava no inicio do corredor lá de casa e lhe dava espora e arqueava as costas para a frente e para trás para ganhar balanço e avançar no soalho até ao fim.
Que felicidade!
Aquele som cavo da madeira a ser batido pelos cascos imaginários de um cavalinho de pau!
Puxou a roupa de cama sobre o rosto, riu e murmurou, Oxalá ganhes, oxalá venças como eu!
 
 

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