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domingo, 4 de janeiro de 2015

Um pouco de ontem


 
O sobrado era da cor das avelãs e muito liso, quase acetinado e no meio dos degraus estava abaulado, rangía quando se descia devagarinho mas naquela manhã não recordo esse barulho, só o alvoroço de muita gente a subir e a descer a escadaria que entortava à esquerda para quem a olhava como eu, cá de baixo. Eram miúdos e professores, tudo de bata branca muito tesa, suponho que pela goma em demasia que tinha levado para aguentar os vincos a primor. E pais, ou melhor mães, muitas mães de cardigan pelos ombros com um único botão ao alto apertado, vestidas de tons pálidos a contrastar com as nossas bochechas muito coradas pelo primeiro dia na escola e o peso das malas a estrear os cadernos.
Dei um beijo e recebi outro da minha mãe e fui pela mão da professora. Ao fazer a curva no alto da escada olhei-a e ela sorriu-me com um jeitinho de cabeça para eu seguir. Nesse segundo tive tanto medo.
 
Amanhã retorno ao ciclo de sempre, sem feriados ou comemorações. Tenho tudo pronto para o regresso, sinto que o novo ano - se é que assim se pode dizer - se inicia amanhã.
Faz-me falta aquele beijo, a mão da minha mãe e até, atrevo-me, um pouco de medo.

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