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domingo, 28 de dezembro de 2014

O nome



Talvez o tenham feito por duas ou três vezes, a sensação era a de escutar ao longe, difusamente como que coberta por uma seda macia e mesmo assim permeável ao toque, um beliscão na orelha a despertar-me, o meu nome [não me ouves?] dito perto e familiarmente na entoação cantada que nos traz ao mundo dos olhos abertos no repente [quem me chama?], ergo-me sem nada ver, o quarto a escorrer noite e as mãos dormentes a apalparem escuro no vazio diante [o que foi?], tropeço em mobílias que se arrastam até às canelas e o agitar dos braços no frio de Dezembro faz-me crescer saliva na boca seca [onde estou?], quero gritar por alguém mas o ruído do meu nome chamado perde-se no troar de sapatos caminhados em pedra solta, volto-me para encontrar a saída mas afunilo-me numa multidão de gentes que me apertam e empurram [quem são vocês?], perco a força e sinto-me afundar [o que é que está a acontecer?], deixo-me ir na maré de faces que desconheço, porém de traços nítidos e uma lógica absurda para o momento reflecte-se sobre os meus pés descalços, a roupa de dormir que me veste, uma mulher encara-me e sorri [ como te chamas?], diz o meu nome.

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