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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Entre [Duas Árvores]



Entro no bosque e piso com cuidado embora me apeteça correr desenfreada entre árvores, segurar troncos quando o equilíbrio do ar puro se perde pela tontura das curvas açoitadas na decisão do caminho imediato e fascínio dos verdes transformados em luz-prata ou cegueira instantânea do pestanejar.
Sapatos novos. Presente de Natal.
Baixo os olhos aos pés e não entendo como sirvo em sapatos tão pequenos, um número de criança quando as pernas já se me alongaram em corridas de fuga do feio, de desonra, de despedidas, formatos inconcebíveis para uma alma a despontar. E no entanto, caminho bem, sabem-me os pés os trilhos de cor numa passada viva, não há engano no retorno.
Vontade de correr, isso sim, como se sentisse a cara a gelar de tanto o ar me humedecer os olhos e chorar rios e ainda continuar para a frente sem o tino de achar o caminho de volta!
E corro, que pernas crescidas são para isso, subir e descer, tropeçar e até caír nos joelhos hesitando a dor no esfolado e passar cuspo no sangue e continuar seguindo!
Sapatos que eram novos. Presentes. Tenho os pés nús na caruma áspera e rugosa de um bosque esgravatado entre duas árvores. Eu menina sempre, sempre a querer correr.


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