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Perdi a valentia, a nudez das palavras à vista de todos ou a forma desavergonhada com que o fazia, um despudor, mais rápido serei capaz de mostrar pele de corpo do que a derme das letras, vá lá entender-me a razão, simplesmente deixei de ter a habilidade de o fazer, a vontade tóxica a consumir-me na dependência e a procura do lugar ermo para me injectar de tinta azul-china na solidão do momento.
Não quero ninguém perto de mim. Privado. Culto.
Cresce-se, aprende-se a dizer não e depois isto, incapacidades, deficiências de coisa madura de quem ganhou juízo e não deve andar por aí ao pé-coxinho, muito eu escrevi em todo lado, em qualquer pedaço de papel, guardanapo, pano, bainha de saia, nos tornozelos escondidos nos botins, pequenas frases, verbo solto, a loucura desenfreada do que sentía como cavalo bravo que se escapava quando prestes a ser agarrado e estava feliz e sentía-me plena.
Agora enfarto-me.
Tenho a boca cheia de palavras, valentes, eu é que não.
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(in O céu da boca (Palavras Reencontradas), Fevereiro 2014)
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