Deixo extraordinariamente arrastar os minutos como se não tivessem importância, não lhes dou essa dimensão, mais um bocado e já não estou aqui, outras latitudes, outras saudades, enquanto fico mascaro o tempo de inútil e deixo para a última a mala, não gosto de fazer malas, conferir se está tudo ou se esqueci algum objecto indispensável, fazer listas é impensável ou preparar com muita antecedência dá-me o gosto do adeus anunciado, não quero, prefiro o abraço apertado no momento e nada de olhar para trás, acelero os passos e fico no apuro do ouvido à espera do bater da porta e só depois cerro os olhos, abato-me.
Dantes, quando chorava, colava a língua ao céu da boca, agora nem isso, dá-me uma dor na garganta e no peito, um amargo que demora a passar e aperto nos lábios mas não digo nada, sinto uma espécie de saliva a mais que engulo, engulo e não vai para baixo.
Parto sempre mais carregada do que regresso, levo tudo o que o olhar alcançou, as mãos tocaram. Na bagagem acondiciono-os gentilmente e ao longo dos dias vou consumindo consoante o apetite dessas pequenas grandes iguarias que passo clandestina e que verdadeiramente me alimentam.
Chego magra, famélica, ávida de mãos, olhos, casa. Venho plena das fomes de outros, pedras preciosas, ouro.
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