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sábado, 18 de outubro de 2014

Campo de Palavras (16)




Ela disse:
- Porque será que é sempre assim? Porque será que cada vez que lá vamos nunca há ninguém, somos só nós, só nós e aquele lugar, como se tudo tivesse desaparecido?
Ouvi o silvo do vento e o estalar das ondas contra as rochas, uma e outra gaivota em círculos a planarem e um pio triste quase gemido. Faltava-me o ar por tanto haver, uma tomada à força por dentro dos pulmões a obrigarem-me a calar quando tinha vontade de gritar de braços abertos a dizer eu estou aqui.
E no entanto, mudo que os sons abafavam-me na pequenez do céu aberto, só as passadas a trilharem gravilhas e até estas pisei no cuidado de não me trairem a presença, intruso, quase nada que me possa esconder e nem de mim, talvez os que aqui vieram se tivessem perdido na derradeira lucidez do que são. Palavras finalmente achadas para se tranquilizarem ou não.
Disse-as para mim, para que se tornassem mais cruas na verdade do que sou mas também para que me enchessem o peito ao invés de um vento que me pudesse levar a intenção, não gritei porque afinal não precisei de ruído, não me perdi porque achei palavras para me fazer.
Sitio de solidão, sitio de verdades, olho a fotografia que ela me passou para as mãos e não respondo, ouço o assobio do vento e o mar a estalar contra as rochas.
 
 

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