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terça-feira, 26 de agosto de 2014

C782 - Ninguém leva a mal




Depois de ter fincado os calcanhares por mais de vinte minutos entre dois horários incumpridos, lá chegou, airoso e amarelo, o transporte guiado por um condutor necessitado como os demais mortais, de uma boa dose de cafeína que deixou plantada a clientela sorridente e muda, alongando a fila para além do passeio, quem disse aqui que Lisboa estava vazia? Que grande mentira, ainda mais às 8 da manhã, tudo de bom humor e pessoal de trabalho!
 
Calor à séria só cá fora, perto dos pombos e dos taxistas a moverem carros à força de braço, poluentes pela hora da morte, porque dentro do autocarro que desliza à velocidade de um pedestre, tirita-se de frio e espirra-se pelo foco de ar condicionado no máximo que incide no crâneo. É pena que às seis da tarde se consiga assar uma sardinha e nem de joelhos rogando clemência, o bendito interruptor mágico AC seja accionado pelo dono do veículo...
 
Mas é o mês de Agosto, ninguém leva a mal, se calhar o motorista até é novo no percurso, deixá-lo, para quê arrelias a hora tão matutina? Bem faz ele, que vai no ripanço, por este andar chega-se ao emprego à hora de almoço, mas a verdade é que com tudo fechado, onde é que se come? É uma poupança, engole-se um frito na tasca que se evita o ano inteiro e até se dá graças pelo patrão trazer o dedo na tijela da sopa que põe à frente do queixo faminto.
 
E durante o dia a azia remoe a par com o serviço, lento e pesado da ausência dos veraneantes, desculpa-se o atraso pelo mês presente, adia-se o passado para a urgência dos que estão para chegar.
Ninguém pode levar a mal, é que ainda há o regresso para fazer.
 
 

 (in As fantásticas aventuras do C782, Agosto 2014)
 

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