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sábado, 2 de novembro de 2013

Portas & Janelas - Esboço nº 5




Empinar cartas em V inversos ou contar a estória de ti vai dar no mesmo, tudo em meia-dúzia de palavras ou uns quantos dias que no caso não houve tempo capaz de nos segurar como também não o é nos jogos de cartas empilhadas, basta um passo apressado ou um suspiro e tudo se desmorona espalhado, um plano só sem graça nem tino e quem olha aponta dizendo na certeza que se tratam apenas de cartas de um baralho mal arrumado.
Ao alto, sempre ao alto, até na ponta dos pés tentava chegar-te e mal te debruçavas a mim, olhava-te num plano de eu pequena e tu no céu, águas furtadas próximas de um sonho onde eu fechava os olhos e nos imaginava enroscados ao frio de um Inverno por chegar e os pequenos quadrados de vidro da janela a deixarem ver a noite da tarde a escorregar devagarinho sem nos importarmos com nada.
Tudo mentira, era Verão a pino e o calor encarniçava as telhas que desforravam o cómodo e da janela só me apontavas ponteiros apressados a vestirem-me o tombo da claridade.
Um dia não voltei. E tu não me chamaste. As cartas servem para jogar, estão arrumadas numa caixa, a tua pequena janela fechada e num V derrubado, altiva e medrosamente debruçada numa estória de um só plano em telhados perfeitos de carne viva.
 
 
 

(Portas & Janelas, Agosto-2013)

Todas as fotografias da Colecção Portas & Janelas são da autoria de Eduardo Jorge Silva

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