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domingo, 27 de outubro de 2013

Tento



A minha vida está cheia de mortes. Suponho que não terei a exclusividade deste estádio que bem passaría a outrém, egoísta podem dizê-lo e com propriedade, mas a minha conta já está bem recheada e não é de lamento a razão porque o digo embora lhe sinta as machadadas conforme me caiem a uso sem acerto de profissional, vão batendo no osso e carne, é preciso é atingir, não há falha, não escapo, também não me ponho a jeito que o espectáculo fúnebre põe-me a bom correr, a doença a milhas e conversa sobre estas duas cose-me a boca saíndo de fininho.
A morte já me levou os meus das veias, vários amigos do coração, homens e mulheres que nunca tendo conhecido na pele sempre moraram em mim através das palavras, pela sua música, na sua integridade, pela arte. A morte tirou-me eus de mim. Nunca mais os vi, nunca mais me visitaram. Alguns despediram-se de mim porque sabíam que ela vinha.
Os vivos sabíam que a morte chegava.
E eu não percebía.
Não a conseguía escutar. Por mais que apurasse o meu ouvido que sempre foi tão afinado não conseguía ouvir passo algum a aproximar-se. E ela veio e executou a sua tarefa.
Não consigo entender porque razão ela chega quando ainda há tanto a fazer. Por aquele que ela leva e por aquele que ela leva pelos demais.
Sinto-me como se escorregasse lentamente e por mais que tente içar-me o terreno esboroa-se à medida que os meus pés se tentam cravar. Uma mão que não chega nunca ao topo, sempre em busca de uma outra que se ponha em linha e ao alcance da minha para finalmente me arrancar do precipício.
Tento tocar, chegar, viver.
Mas às vezes sinto que a mão que espera a minha é a da morte. E não a ouço.
 
 

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