Há um momento em que o ruído deixa de o ser e se torna uma parte de si mesmo. As patas e as asas esfregadas ritmadamente provocam uma fricção aumentada à lupa ecoando como um instrumento que se agita para enganar o esmagamento do redor.
Senta-se.
Traça a perna e apoia o queixo sobre os dois braços em cruz ao peito, mãos sobre os ombros, atira a vista para o longe, perdeu-a. Quer achar o som das cigarras mas já não o encontra e também o olhar não se devolve na força do pedido porque o pensamento sufoca-se na solidão.
Abraça-se mais. Mais.
Não é justo num sitio de dois lugares só haver um ocupado e uma multidão de solidões a empurrarem-se na disputa da concorrência para justamente serem o mais importante. No peito, na alma, na essência. Havería de ser uma conversa na 1ª pessoa do plural e não um solilóquio. Cego. Afinal deixou tombar os olhos porque nada do que alcança tem interesse para contar. Contar. Rumina. O que lhe cai para dentro de novo chumba-lhe na cruz dos braços.
Ergue-se.
Há janelas que tiram o ar.
(Portas & Janelas, Agosto-2013)
Todas as fotografias da Colecção Portas & Janelas são da autoria de Eduardo Jorge Silva
(Portas & Janelas, Agosto-2013)
Todas as fotografias da Colecção Portas & Janelas são da autoria de Eduardo Jorge Silva
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