Todos os textos são originais e propriedade exclusiva do autor, Gasolina (C.G.) in Árvore das Palavras. Não são permitidas cópias ou transcrições no todo ou/e em partes do seu conteúdo ou outras menções sem expressa autorização do proprietário.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Maria



 
Sempre o mesmo.
Por cada vez que ali passava e fazía o redondo da escadaria na curva que a parede oferecía ao sinuoso da subida ou descida, acompanhada pelas riscas do papel de parede a destacarem os quadros com vários ilustres do clube a vista ignorava-os para se apontar apenas a um que o chamava. Não sabía porquê, nem razão havía pois era de todas a tela menor, a moldura mais simples e perguntado sobre a identidade e feito, ninguém tinha história certa para contar, muita invenção pensava, algum protegido de um importante membro que nada fez e resolveu pregar uma partida para o futuro.
Mas ainda assim a dúvida, ladrão do espírito, levava-lhe os passos parados e um dia, de novo na contemplação, um velho parou e a par sorrindo admirou com ele.
- A olhar para a Maria?
Quem era Maria? A filha do caseiro que tinha salvo um dos membros do clube de uma armadilha do couto, evitou que ficasse sem uma perna, ele eternamente grato, ela nunca quis nada em troca, ele arranjou-lhe aqui forma de o demonstrar, tela pequena e singela perto da dele, não há aqui permissão para o sexo feminino.
Sempre o mesmo.
Sempre os olhos a ficarem presos na armadilha do quadro logo na curva sinuosa que a escadaria oferece quando os passos se lhe aproximam. Desta vez um pouco mais. Mais ainda. Tão perto que Maria colou-se-lhe à pele e voltou a ser livre.



(in Telas, 2009)

Sem comentários: