Desde criança, muito criança mesmo, que soube que quería dançar. Não havía equívocos, eu sabía. Mesmo quando as pessoas grandes me fazíam as perguntas do costume e me tentavam encantar com fascinios sobre outras profissões mais populares entre as meninas eu abanava a cabeça e punha-me nos bicos dos pés e afirmava bailarina. Ninguém me levava a sério, todos achavam muito engraçado e batiam palmas.
Claro que cresci como todas as crianças e mantive a minha convicção. Contra a vontade dos meus pais e o rumo da minha vida desviou-se da minha vontade. Ainda assim, fiz a minha carreira académica e mantive-a a par com o meu sonho, nebuloso e esfiapado. Dei aulas de ballet, coreografei e um dia disse que aquele era o meu último dia ligado à dança.
As letras sempre viveram ao lado das sapatilhas. Escrevía porque sim e porque não, porque precisava para me sentir livre a partir de certa altura e porque a vida sabática também tinha estado intimamente ligada ao verbo.
Gostava de ter tempo para escrever, para aprender a escrever, para treinar as palavras, ensaiar o verbo.
Mas a minha actividade profissional nada tem de relacionável quer com a dança quer com a escrita.
Até alguns daqueles que de mim saiem e me usam nas mãos e tempo, independentes da minha vontade e carácter, são mais genuínos e verdadeiros às suas vocações do que eu.
Sou tudo o que não sou.
Ah! E já agora... Também não sou a da foto acima. Isso sería um verdadeiro milagre, é do Séc. XIX.
2 comentários:
Gasolina, que alegria ler este seu texto tão caro a nós que um dia calçamos as sapatilhas... Você não imagina o pulo de alegria que dei ao ler suas palavras no Bloghetto. Deixei-lhe um recado de puro afeto. Promete-me que aparecerá mais? Encantaram-se com você por lá...
Beijo imenso.
Selminha
Beijo enorme Selma!
E que epopeia foi para descobrir-te e que afinal acabou por ser obra do acaso encontrar-te.
Abraço apertado de saudade!
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