Todos os textos são originais e propriedade exclusiva do autor, Gasolina (C.G.) in Árvore das Palavras. Não são permitidas cópias ou transcrições no todo ou/e em partes do seu conteúdo ou outras menções sem expressa autorização do proprietário.

domingo, 8 de setembro de 2013

Portas & Janelas - Esboço nº 1




Portas fechadas. Foi assim que sempre te conheci. De uma aparência lavada e prazeirosa, convidativa mas quando se chega perto bate-se com o nariz na porta, ninguém atende por mais que se aleije os nós dos dedos na madeira vertical à espera do retorno de pés apressados de um outro lado, uma espécie de fronteira onde nervosos tememos apresentar o passaporte por nos trocarem por algum bandido a monte. Nem o ouvido mais atento podería escutar as moscas porque desse lado não se ouve nada, está tudo fechado, tudo selado, tudo abrigado ao que um dia os homens chamaram sentir, doer, o sentimento, aquele sentimento que não se ensina e que cresce à medida da pele e ainda que esta lá pelas alturas da adolescência alta se trave, a elasticidade dos sentires dilata-se e molda-se, empola-se, ajusta-se.
 
Em ti, cristalizou-se.
 
Não de uma forma açucarada para que os reveses da vida se revelassem menos sangrentos ou quiçá, públicos, isso eu entendía, mas empederniu-se de uma estranha raíz que te toma até aos olhos e nem um fio de luz parece ser a chave para desvendar a morte que te possa ter fechado.
Não há perguntas que me satisfaçam nas respostas que me dás porque são sempre demasiado simples, demasiado objectivas, sem demasia de explicações remetendo tudo para uma fachada nobre onde se admiram portadas a uma só cor sem uso nem mistério, sem encontros furtivos numa noite entreaberta, sem crime velado.
E o que mais me surpreende é que as sabendo cerradas teimo em chamar-te baixinho.


(Portas & Janelas, Agosto-2013)

Todas as fotografias da Colecção Portas & Janelas são da autoria de Eduardo Jorge Silva

Sem comentários: