Ouvi, ouvi, ouvi e não disse nada, a partir de certa altura já me tinha ido embora, nem sequer me apercebi tivesse restado alguém de meu caudal que infinitamente me acompanha e murmura para aguentar mais açoite, todos se foram e também eu.
Recobrei a noção de equilibrio quando os tímpanos estouraram na violência do piado da gaivota solitária ao descobrir o pescado pela rasa da água recolhida que se suicidou nas rochas.
O som.
Um tiro.
Um tiro de carabina certeiro à minha espera, uma mira bem apontada à minha nuca, os cabelos sem destino embrulhados no pescoço, na venda dos olhos, um rodopio de espaço aberto que aperta e esmaga, eu sózinha, eu comigo na imensidão dos meus pensamentos, eu mar que volta atrás para roer paredes e avançar e romper e galgar, eu mar que me desfaço e desapareço sob areia perdida quando o vento a seca e levanta no assobio zangado que silva como tragédia que se olha na risca do horizonte nebuloso.
O som.
De um silêncio de não haver mar nas mãos nem nos pés entre os dedos quando a água foge de novo para o mar, só imagens que faço para fugir de açoites ao cerrar os olhos e deixar de ouvir.
Respondi Não.
Há sol, cheira a maresia, sinto-a a picar o nariz.
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