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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Intervalo




[A leitura das palavras que se seguem é da inteira responsabilidade de quem a fizer e ao seu autor apenas poderá ser imputado encontrar-se sob o efeito da silly season]
 
 
A cortina húmida e cálida da noite escorreu vagarosa e densa preenchendo contornos e abrigando segredos. Aqui e além, alguns estalidos como a encerrarem ciclos no anúncio do fecho da luz e último aviso para o sossego completo, silêncio, mais um ruído que soa teimoso embrulhado na escuridão a disfarçar tons e formas de figura, coisa que mexa ou respire, um último gole de ar até o dia aparecer de novo, por ora será a sepultura deste.
 
Claridade. Um ponto de luz, apenas um ponto, um quase olho, uma esfera perfeita que encadeia e volteia e encanta e traz outras e numa estrada alumiada bafeja verdes de prata e desperta rãs que coaxam inchadas no salto desesperado da folha afundada que balança e navega deslizante no canavial de poça parada onde alfaiates incansáveis se agitam na obssessão lateral das pernas arqueadas lutando com moscas tontas que se prendem na teia invisivel de uma aranha amarela muito quieta.
 
A lesma não se assoa e a coruja branca não lhe dá perdão, voa raso e apanha no mesmo passo o mosarenho veloz, porém guloso e distraído nos milhos, pia, agita o escuro, anuncia tragédia e apontam-lhe a morte.
 
De mais certo não havería que estar, pois se a noite cansada de tanto afã chegara a hora de ir descansar e ao dia ía render. A bruma orvalhava nos verdes, os contornos desvendavam o bosque. A alvorada anunciou-se.
 
 

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