Final de almoço, café e palitos, a patroa e cozinheira, de mão na anca, pano ao ombro, aproxima-se do seu cliente regular das pataniscas e pergunta-lhe se estava bom, muito bom resposta dele, sempre fora iguaría apreciada desde os tempos de senhora sua mãe. A conversa evolui para o retrocesso, ou seja para o passado, mas tão passado que se chega ao nascimento do cliente.
A patroa e cozinheira já se sentou, enrolou o pano a uma das mãos, interessa-lhe a conversa, o cliente é distinto.
O cliente nascera por alturas de Março sem precisar o dia, como assim pergunta ela, não sei francamente, responde ele sorrindo. Era comum naquele tempo isso acontecer, nascer-se num dia e ser-se registado muito tempo após, e ficar como data de nascimento o dia do registo, mesmo que tal não fosse verdadeiro, continuou. Foi isso que aconteceu. O pai do cliente só o registou dois anos depois e em Maio.
A patroa e cozinheira limpou o nariz, passou o pano na mesa e olhou muito séria para o cliente.
- Se nasceu em Março é carneiro. Se tem a data de nascimento no bilhete de identidade a Maio, é touro.
O cliente sorriu.
- Bom! De um par de cornos não se livra.
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