Há tempo para café e tempo para fumo, mais o tempo para galgar os degraus e vir ao ar livre no topo do prédio observar o vai-vem dos carros para lá e para cá.
Não há tempo para mais nada.
Está tudo contado.
Intercalo o gole no copo com a contagem dos pesados que se fazem ao viaduto e observo a sua lentidão ao serem ultrapassados pelos ligeiros, rápidos, sem paciência para o ajouje das cargas e das lonas esvoaçantes ou enfunadas, puxo a brasa ao cigarro e fixo sem pestanejar até me arderem os olhos.
Perco-me.
Talvez esteja aqui há horas a contar carneiros a saltarem sebes mas uma ambulância assustou-as com o seu anúncio de desgraça na sirene rotativa azulando o grito para todos se afastarem e também eu corri com os olhos todos os cantinhos e não acho nada.
Só o céu, um mar imenso onde nado de peito e o meu cigarro não se apaga nem o copo se salga. Afinal os carneiros esconderam-se na ponta do marulhar e o ruído das suas vozes é a gargalhada da partida que me pregaram, uma cabra-cega com tudo à frente e que não vê o exposto.
Sorrio, acho graça à graça das ondas, curvas que me perdem nas contas, já não sei que horas são, é tudo meu, o tempo é a minha mão fechada e se a abrir serão 10 minutos caídos da minha vida.
Regresso.
Os carros continuam.
Eu fui até onde ninguém consegue ir. Outros irão decerto.
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