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quinta-feira, 18 de julho de 2013

Original



 
Se ontem amargurava a dúvida de que a que lia poderia não mais ser a que agora escreve, hoje há a plena certeza de que a que outrora dançou e gemeu na dor das pontas é e sempre será a que sente o sabor do cuspo a mais que incontidamente seca e desagua sabe-se lá onde. A bexiga cheia. Aflita. O suor gélido na cova do pescoço como um sopro de um monstro invisivel que a qualquer momento irá ferrar e paralisar os movimentos, a lembrança ida. Toda. Tudo branco ou tudo negro ou tudo cego. Ou todos os cheiros e sons aumentados numa lupa gigantesca que incomodam e maravilham.
A antecedência do palco, o sobrado quente e macio. Traiçoeiro. Cada nó de madeira afagado que se sabe de olhos fechados na longura da distância, nos sonhos, nos pesadelos em que se cai ou se rompe o tendão, ou nos anos que afastam o som dos acordes do velho piano martelado e as palavras ritmadas da contagem da coreografia.
O vinco calejado das fitas, as unhas falhadas, os dedos partidos. Os adesivos, as perneiras de lã, a coxa elástica, a cânfora, o cheiro de suor acre que não arreda.
Desta pele mais ninguém tem uso, esse egoismo veste-me a mim. Por dentro e por fora. Viva e no escuro.
 

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