Silêncio. Um pouco de silêncio por favor, mais um par de horas no silêncio, deixai também os fantasmas descansar e os móveis mudos desses estalos que me sacodem e erguem na ponta dos pés sem sono algum. Mas por agora não, ainda não, preciso desta horizontalidade mortal e embalada do cansaço, em que os ossos pesam na moleza morna da lembrança do feto aconchegado à concha materna, protegido do chamamento do nome e da hora e do toque de levantar.
Quero dormir, preciso dormir, não me acordem, que fadiga esta que se apoia de cotovelos sobre o peito e carrega, empurra, faz força e me tira o ar, preciso de descansar, não me acordem, tragam-me o silêncio para eu beber por uma hora que seja, uma só então, perco sempre este negócio e arrematam-no nos minutos descontados na ladaínha do custo, a meu custo franzo os olhos que não quero de todo acordar, nem pesadelos de explodir o coração me farão mover a memória dos movimentos de me destapar, vivo, foi um mau sonho, já acordei.
Só silêncio, peço.
Para que hoje seja diferente.
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