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sexta-feira, 26 de julho de 2013

A tua saudade



 
Não falarei de mim na primeira pessoa, não hoje que encurtei o regresso por atalhos de penosos caminhos na memória da casa antiga e os olhos procuraram as janelas do segundo andar da rua onde moraste. Eu também.
Por isso não posso falar de mim, há que manter a distância, tudo se torna mais fácil quando se vive nas palavras de outros, uma certa decência é importante e não conseguiria acabar com o papel manchado de azul e água-sal sem entender o que escrevo. Depois, perder a cabeça por coisas sem remédio deixar-me-ía na ingrata posição de mim mesma e na de terceira pessoa, escolho a narrativa, contra a simpatia e empatia, opto pela vigilância.
A mesma azáfama de sempre, a qualquer altura parece que ele há-de assomar e o coração desassossegado, pisado na dúvida da verdade, a bater contra as paredes do peito, a pedir para vir cá para fora e correr, correr e ir à procura dele, os passos que não param e a janela a ficar para tráz, ela a olhar, a virar-se, quase a parar sem parar, depois a acelerar o movimento das pernas no receio de encontrar alguém que a conheça e lhe faça perguntas e não aguente e exploda nas saudades, nos comentários, na compaixão, nas perguntas pequeninas cheias de interrogações que correm tanto quanto o coração que não há meio de voltar para dentro.
Eu dou-lhe a mão e sossego-a, unimo-nos.
Juntamo-nos neste verbo. Tosco, arranhado, esfolado como o meu peito.


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