A impressionante capacidade dos homens para contarem histórias começa na sua engenhosa capacidade de mentir, esconder, adulterar, alindar o que lhe é desfavorável, nocivo, corrosivo, temível, um armário gigante onde encafuam esqueletos e vão amontoando ao longo da vida desde a mais tenra idade, toda a espécie de desculpas que rapidamente se transformam em argumentos de peso e depois em justificações até ao culminar do perdão pela morte do seu semelhante.
Contar um facto, reproduzir um acontecimento nunca é exactamente clonar o sucedido, é acrescentar-lhe de si uma arte do seu carácter, uma marca (que parece) insignificante que faz toda a diferença.
Eu faço parte desse mundo. Horrível. Tornar belo o que vi feio, transformar divertido em palavras o que escutei tristemente estúpido a tombar da boca alheia, a justificar a minha morte porque não aguentei a vida parda de outros.
(lx. 18-01-2010)
1 comentário:
um retrato de todos nós...
(mas por vezes, quase sempre que aqui venho, apetece-me somente escrever "gostei muito").
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