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quarta-feira, 13 de junho de 2012

Olhar com vista sobre o Rio (26)



O mais acertado sería escrever sobre o santo e despachava a coisa airosamente, mas o coração do deserto é teimoso e ateu, claro, e também as promessas são como a água que o enche, hoje transbordo de tão pleno o meu sentir e tão belo ele tem corrido para me levar e trazer, que falta maior era dele não tocar palavra por isso dou-lhe as minhas, todas as que sei, poucas para lhe fazer jus à minha fortuna de o ter à vista e embalo em dias de mau acordar.

Querer ter-te só para mim é presunção, mas infinitamente consolador achar que te entendo, que te conheço apesar de outros secretamente partilharem deste egoísmo saboroso em que cada um bebe a sua concha de marés enquanto espia se os demais adivinham na viagem do número mágico de sete minutos, o que os banha na alma e repetem obssessivamente no silêncio surdo disfarçado como ruído do motor do cacilheiro cansado, como és grande, és o meu Tejo.

Mareados saímos todos, seja pelo quebrar do encanto, seja pela tristeza da gaivota no seu piado gago ou pela saudade nas costas que não se voltam para não mostrar a fraqueza da nossa humanidade. Tanto Tejo.

Tanta promessa.



(in Olhar com vista sobre o Rio, 2012)


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