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sexta-feira, 29 de junho de 2012

(Des)Montagens



Dava-lhe um ar sereno. Até distante. Composto. Cénico. Por vezes uma aparência gelada, paralisada, recortada de uma só dimensão e colada a gosto num décor a necessitar de figura a condizer. De resto, pouco mais a acrescentar.
Ou muito, se a observassem em pleno horário de expediente, assaz dedicada a debicar nas teclas do computador com o rabo do lápis, já que o comprimento das unhas não permitia alcançar o polme dos digitos e tamanha envergadura havía-lhe levado mais de um par de horas na manicure, já para não falar no abanão orçamental. Depois, havía sempre o risco -embora calculado, é certo- da falsa unha se descolar da verdadeira, e isso sim, sería um problema dobrado: a revelação aos seus semelhantes e a reparação imediata em tempo laboral.
Claro que a rasto com este contratempo, outros viríam: Como correr para a manicure com saltos de 12cm? E como se exibir destronada, decepada de tais pedestais, praticamente uma anã? Para não referir o desconforto das pequenas almofadas de gel que lhe contornam os glúteos a escorregar, no esforço da passada larga... as bolsas de silicone que se agitam teimosas no soutien-up que tão up que se imaginam amígdalas à beira da extracção! E o enredilhar das extensões de madeixas no desenfreio suado da perdição da postura, e ainda as pestanas que por seis horas a manteve de olhos secos!!!
CÉUS!!!
Por isto tudo, continha-se.
Quando ría, fazía-o num tracinho fino da boca, as mãos presas num cuidado apertado e poisado no regaço gentil de quem sabe que o minimo descuido é a morte do artista.
Só não sabemos bem qual.

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