Tempos houve em que toda a beleza se completava nas mãos para quando se quería, bastava num relance abrir as palmas e seguir linhas, pintar os olhos nas veias azuladas de tinto sangue para logo palpitarem sorrisos interiores de olhos fechados na luz que ondeavam folhos de muitas saias de sedas antigas ao compasso silencioso de notas estridentes como gritos de pavões solitários em jardins abandonados pelos anos.
Afastou-se.
Depois aproximou-se, mas não muito, não o suficiente para escutar o que ela dizía.
Dois passos atrás de novo.
A paleta de cores à esquerda toda noite, toda veludo azul. Ela na tela equilibrando a solidão da beleza.
Distância, é este o nosso mundo, eu sou a tinta, tu és a imagem, eu sou o contorno do sonho, tu és a mancha da essência.
Afastou-se, ouviu-a agora distintamente. Não quer escutá-la a chamá-lo, se o fizer estará perdido o sonho, o quadro, a música, o jardim, as sedas ficarão farrapos.
Aproximou-se. Tapou a tela. Dias há em que a inspiração foge para outros sitios.
in Telas - Jan.2012
1 comentário:
dia há a que a inspiração parece ter tido vida e morreu.
diz quem sabe...
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