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domingo, 27 de maio de 2012

Deixa assim.



Suspirou sem ruído, apenas o peito a dilatar.


- E depois?


Depois nada, não havía nada depois, nada mais, porque tinha de haver qualquer coisa a seguir? Como se à ultima página de um livro se seguisse a capa dura tivesse que haver um acrescento de livro, ou no assoar da palavra fim, o filme prosseguisse na tragédia de quem o roda às escuras ou ainda o coveiro que tapou o morto igualmente o chorasse, a este e a todos que já aconchegou no leito derradeiro, e depois? Depois? Depois de quê? De nada, depois nada para nada, não tem de haver nada, há coisas que não seguem, pois tu não sabes que até as coisas que acabam têm beleza porque assim acabam, porque não têm depois, porque nelas se encerra a profunda tristeza do inicio do fim sem retorno nem recomeço nem direito a repetição porque falso sería o tentar, falso sería o segundo ir, falso sería o depois da primeira. Deixa assim, deixa-me ir, depois tu, depois eu, antes nós.


Suspirou de novo.


No silêncio brutal, ouviu-se o suave passar do tempo a troar pela sala. Incómodo, talvez um ruído viesse a calhar para abafar as palavras que não se dizem e se esperam na interrogação.

Mas não foi capaz, a mala está feita, depois será tarde, a manhã brinca com o coração.

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